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Para ser mulher moderna precisa topar transar de primeira?

Soltos S.A.

02/03/2020 17h47

Foto: iStock

"Mas você tem 32 anos e eu tenho 36, é sério que a gente não vai transar?!"

Essa foi a derradeira frase ouvida por uma solta ao final do que parecia ser um date promissor: drinks, papo bom, beijo gostoso… Tudo certo. Mas nossa solteira em questão preferiu não esticar aquela noite para o sexo e achou que o encontro ia terminar com mais um beijinho e convite para um possível programa na semana seguinte — não com um textão julgando sua atitude como retrógrada e moralista.

Que o cara foi sem noção, está claro. Mas o que a gente quer discutir com essa história (que tem aparecido bastante no inbox dos @soltos_sa) é: Será que saímos da ditadura da princesa virgem para entrar na ditadura da putaria?

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Sabemos que o sexo tem vários potenciais: produzir prazer, fazer amigos (sim, dá pra virar amigo de um peguete), melhora de autoestima e empoderamento. Mas todos esses são potenciais que nem sempre são atingidos porque também tem muitos riscos: falta de prazer, paixões não-correspondidas, estragos em amizades, ISTs, confusão, arrependimento, estigma social. Ou seja: existem tantas chances de ser incrível como de ser horrível. Por isso, a decisão de fazer ou não fazer sexo não é tão simples de ser feita. 

Resolvemos então desconstruir algumas falácias dessa nossa era:

Falácia 1: mulher moderna é a que topa sexo casual

Em tempos mais livres e fluidos, parece que as pessoas têm confundido o conceito de liberdade. Poder fazer tudo não quer dizer ter que fazer tudo ou querer fazer tudo. Parece óbvio, mas tem muita mulher sendo julgada por não topar sexo casual — e esse julgamento rola tanto por parte dos homens como por parte de amigas ditas mais "bem-resolvidas" com a própria sexualidade. 

Claro que a liberdade de poder fazer o que a gente quer é maravilhosa. Tem muitas mulheres que estão tendo prazer e se empoderando dentro de relações casuais. A gente é super a favor disso, mas essa escolha é individual e cabe a cada uma, a cada momento. Não existe um juízo de valor de que a mulher que gosta de sexo casual é melhor ou mais livre que a mulher que não gosta. Elas só tem relações diferentes com a sua sexualidade e todas as diferenças deveriam ser respeitadas, mas isso não tem acontecido.

A mulher que não topa sexo casual é normalmente tachada de:

  •  Moralista, retrógrada, travada e mal-resolvida – como se sua criação e educação fossem responsáveis por manter uma bigorna gigante de culpa, que a puxa rumo ao século 18 e impede que ela usufrua todos os benefícios do empoderamento feminino. Vale lembrar aqui que ser "bem-resolvida" e empoderada no sexo não é transar sempre na primeira noite ou topar casos de uma noite e nada mais. O empoderamento vem da autoconsciência e do respeito ao próprio desejo. Quais são as suas vontades naquele momento? Poucas coisas são tão libertadoras quanto poder dizer não. Usufrua desse benefício. Se o date te julgar, next!
  • Alguém que quer transar pra namorar – parece que só por que você não topou o sexo casual, quando ele rolar, naturalmente você ficará totalmente envolvida e apaixonada pelo parceiro ou parceira e não o deixará sair nunca mais da sua casa. Vamos sair dos extremos, por favor? Querer respeitar o tempo do seu corpo e do próprio desejo não tem absolutamente nada a ver com ser uma louca da projeção que está aguardando o momento certo para dar a famosa "chave de xereca". 

Falácia 2 : sexo é sempre sinônimo de prazer

O sexo casual (aquele sexo feito  sem estar em uma relação) está cada vez mais comum, mas isso não significa que a qualidade dele seja boa. As universidades de Binghamton e Indiana realizaram estudos que demonstram que apenas 40% das mulheres atinge o orgasmo em relações casuais versus 80% dos homens. Ou seja: transar por transar e ainda não ter prazer, para que né? Está explicado por que muitas das mulheres tão preferindo esperar mais um pouquinho.

As razões por trás dessa diferença podem ser físicas e culturais: 

Mulheres contam com um mapa corporal mais complexo – entrevistamos a terapeuta tântrica Carol teixeiraque reforçou a importância de olharmos para as formas distintas de como os corpos masculinos e femininos são tratados. Não só os homens são estimulados desde a infância a se masturbar e valorizar o próprio prazer, como o acesso ao orgasmo tende a ser via estimulação mais direta, o que garante a alta porcentagem de orgasmos deles citadas nas pesquisas americanas. "Já as mulheres têm um outro tempo para chegar ao prazer. É preciso que cada mulher saiba como acioná-lo a partir de uma exploração do próprio corpo. O problema é que não fomos ensinadas a isso", comenta Carol.

Falácia 3: sexo casual é pra todo mundo

Uma das principais inimigas do prazer nas relações casuais — principalmente pras mulheres –é o julgamento social. Atire a primeira pedra quem nunca bebeu umas, resolveu transar e no dia seguinte teve aquele combo de ressaca física e moral. A gente cresceu em uma cultura machista na qual a mulher que transava fora de uma relação era considerada promíscua, não era "mulher pra casar". Então, não é à toa que a maior parte das relações casuais tem álcool envolvido, porque o álcool reduz a nossa capacidade de julgar (e aí a gente se sente menos culpado quando tá no rala e rola). Mas se você precisa estar bêbada pra conseguir ficar com alguém, você não deveria estar ficando com ninguém.

Já fazendo um paralelo com a bebida, se você tem ressaca bebendo cinco cervejas e se sente péssima no dia seguinte, talvez seja melhor não beber tanto. No sexo é a mesma coisa: se você acha que vai rolar uma ressaca moral no dia seguinte, respeite seu corpo e seus sentimentos e não transe.

E como saber se eu estou em uma fase que tô topando uma noite e nada mais?

De acordo com o TED da Dr. Zhana Vrangalova, pesquisadora de sexo, nem todo mundo vai tirar o melhor essa experiência. Para saber se a gente está apto ao sexo casual, temos que responder a essas perguntas: 

  • Sair com estranhos é excitante? 
  • É uma experiência importante?
  • É moralmente aceitável?
  • Você transaria com essa pessoa mesmo se nunca mais a visse na vida?

Se você responder sim para todas elas, você é uma das pessoas que terão boas experiências no sexo casual. Mas, se para alguma das perguntas a resposta for "não", é melhor tirar o pé do acelerador e levar as coisas com mais calma. 

Querer construir um pouquinho de intimidade não é pecado nenhum

O mesmo estudo americano citado anteriormente traz outro dado interessante: entre as entrevistadas, descobriu-se que em relações estáveis, as chances de atingir um orgasmo chegam a dobrar quando comparadas às relações casuais. Para nós, o ponto aqui é claro. Trata-se da valorização da intimidade.

Para muitas pessoas, em especial mulheres, estabelecer elos de conexão e afeto (mesmo que criados apenas a partir de uma longa conversa regada à vinho em um jantar gostoso) contribui para que haja uma sensação de proximidade e troca maior entre as partes. Isso não significa querer namorar ou continuar saindo com a pessoa por meses. Às vezes, será apenas uma noite incrível, mas ter dado o tempo para a relação estabelecer esses elos fará toda a diferença. Provavelmente você se sentirá mais à vontade com o parceiro e se permitirá estar mais presente e entregue.

Não dá para a gente achar que transar é meramente uma atividade física: sexo não é ir aos correios ou fritar um ovo. Somos animais complexos e, durante o sexo, liberamos neurotransmissores que fazem a gente se apegar um ao outro. Vamos lembrar que a função inicial do sexo era a reprodução — e que isso facilitaria o desejo de ficar juntos para criar o tal do filhote. Mas as coisas mudaram e, o nosso corpo, não. Então, sim, existe um apego químico ao outro (e quanto mais vezes a gente faz com a mesma pessoa, mais a gente se apega).

Pela liberdade do casual com afeto

Nós no canal somos partidários do #casualcomafeto: querer ser fofa com alguém, valorizar momentos de conexão e troca são atitudes mais do que bem-vindas e podem contribuir (e muito!) para um sexo mais gostoso entre as duas partes. Aqui vale reforçar: isso pode rolar num sexo na primeira vez — se você tiver com vontade, claro — ou no sexo com um pouco mais de intimidade. 

O importante é você estar sempre conectada aos seus desejos e seus limites. Lembra da bebida? Tem fases em que a gente não banca mesmo a pessoa não aparecer mais ou até mesmo o constrangimento da manhã seguinte por conta da falta de intimidade. Tá tudo certo. Acha que não vai ser legal pra você? Espera mais alguns dates, vá construindo intimidade e parta para o sexo quando se sentir pronta e com vontade. 

A resposta parece estar na autencidade: faça coisas que estão em sintonia com quem você é. Transar por pressão social, para conquistar ou para querer fazer uma linha de moderna são escolhas furadas. Apenas fuja! Sexo casual não é para todo mundo –tá tudo bem se não for para você.


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Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.