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Por que a gente ainda mede o valor das relações pelo tempo que elas duram?

Soltos S.A.

25/05/2020 04h00

Bodas de Papel, Aço, Marfim, Prata, Esmeralda, Ouro… Já percebeu como a gente sempre relaciona o valor da relação ao tempo que ela dura? De alguma forma é como se a gente usasse o tempo como uma régua pra medir a importância de cada relacionamento. Quem nunca escutou aquele desdém clássico: "esse aí pula de galho em galho"? Como se ter relações curtas fosse algo errado! Nessa lógica a cotação de um namoro de cinco anos é muito mais alta que um de dois anos; e um rolo de alguns meses, nem conta. Como se amor fosse whisky – quanto mais velho, melhor. Mas em tempos de relações líquidas e cada vez mais efêmeras, será que não tá na hora de mudar de régua?

É claro que o tempo traz camadas à qualquer relação e existem dificuldades que só vêm depois de anos de convivência. Isso é inegável. Mas se você olhar a sua volta vai perceber um monte de relações de anos (talvez décadas) que não parecem mais fazer sentido. Essas relações, só por serem mais longas, são mais verdadeiras ou mais valiosas que uma história que começou há quatro meses? Ou então, só porque é uma relação com rótulo de namoro ou casamento, ela vale mais que um amor sem definições da nossa famigerada área cinzenta? Talvez essa seja a origem do olhar pessimista pras relações líquidas, como se valessem menos que as relações "sólidas", só porque duram menos. 

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Poupança x Mercado de ações

A impressão que me dá é que a gente aplica a lógica da poupança nas relações: um investimento (de baixo risco) que valoriza um pouquinho todo mês e anos depois a gente colhe os frutos. Mas o fato é que não há nada de seguro nem constante em um relacionamento… Talvez uma imagem mais próxima seria a bolsa de valores:  tem horas que o casal está em uma fase boa, super comprometido e a ação tá valendo um monte. Já, em outro momento a coisa fica meio morna, as brigas aparecem e o "valor de mercado" despenca. Nessa lógica, tem ações que explodem de valor bem rápido e você sai na alta. Foi rápido, mas trouxe "alto lucro sentimental". Apesar da analogia financeira, a verdade é que o só a gente sabe o que aquela relação significa pra gente e isso não tem nada a ver com o tempo cronológico. 

Física quântica aplicada ao amor

O tempo cronológico com seus meses, semanas, décadas é pura invenção do homem e  assim como tudo que é subjetivo, o amor jamais se curva à lógica cartesiana. Você já viveu uma história de amor fulminante e sentiu como se conhecesse a pessoa há anos já no segundo mês? Essa sensação tem a ver com como aquela pessoa mexeu com você e te transformou. É como quando a gente viaja e vive um monte de coisas novas e depois de vinte dias sente como se tivessem passado meses desde que você saiu de casa. Isso porque você "viveu" mais intensamente esse tempo que quando você acorda, vai pra academia, entra no trabalho, sai, faz supermercado, janta e dorme – repeat. Não tô dizendo que a rotina é sem graça, mas com certeza menos intensa que as férias. Aliás nesse momento estamos até com saudades da rotina de sempre rs

Por isso, quando a gente vive um rolo, um caso, uma paixão que nos afeta de forma intensa, mesmo que tenha durado algumas semanas, ficamos apegados a essa história. Ali você se sentiu vivo e pulsante: internamente essa relação meteórica valeu muito pra gente, apesar que aos olhos da Tia Cleide, foi só "fogo de palha". Tão escorpiano né? 

Nosso amor foi um Gif

No Soltos S.A., vejo muita gente se martirizando porque nunca viveu uma "relação de verdade", traduzindo, uma relação longa com um rótulo definido. Tá na hora de parar de considerar os nossos contatinhos como irrelevantes e se sentir mal porque "só eu não consigo namorar". A futurologia diz que as relações vão ser cada vez mais curtas e baseadas na troca. Afinal de contas, qual o sentido de fazer bodas de aço se não há mais afeto? A vida é curta demais pra ficar parado em uma relação que não faz mais sentido. Eu mesmo já me mantive mais um pouquinho em namoros lixo só pra não terminar logo e poder colocar essa relação na estante mental das "relações de verdade". É um pira bem esquisita né?

Já tive histórias de semanas (até dias) que me transformaram profundamente. Gostaria que tivessem durado mais? Óbvio, mas não duraram por n motivos. Às vezes a gente sonha com um longa metragem e vive um stories. Foi bom? Então tudo bem! A partir de agora quero olhar pra elas com mais ternura, sabendo que cada uma me deixou sua marca e aprender a jogar a Tia Cleide pela janela toda vez que me bater essa pira da duração. Tenho certeza que se a gente olhar pra trás assim vai poder dizer que viveu relações importantes, independente do tempo que duraram. 
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Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.