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Idealizar o autoamor é uma furada tão grande quanto idealizar as relações

Soltos S.A.

22/07/2020 03h00

O autoamor nunca esteve tão em alta. Sete em cada cinco terapeutas holísticos posta diariamente que você tem que se amar e que sem o amor próprio não há felicidade… tá, mas como faz pra se amar? Ninguém me ensinou isso. Será que eu tenho que ficar me olhando no espelho e me paquerar? Ou então excluir todos os aplicativos, entrar em uma relação monogâmica comigo mesmo e quem sabe no futuro ter um casamento sologâmico? (Acreditem, já teve gente que se casou consigo mesmo). Não é isso, calma amigle!!! O autoamor pode ser muito mais sutil e muito menos idealizado do que você imagina, assim como o amor. 

A pessoa certa

Que atire a primeira pedra quem nunca achou que fosse um dia encontrar a tampa da panela, ou a metade da laranja, como diria Fábio Jr. A gente tem essa ilusão de um amor que bate no primeiro encontro com encaixe perfeito, rápido, indolor, sem sombra de dúvida. Até fizemos um vídeo sobre essa ilusão da pessoa certa e muita gente se identificou. E com tanta idealização, muitas vezes a gente deixa passar certas pessoas nas nossas vidas porque não sentiu esse canavial de pombos dentro da gente ou porque tinham dificuldades a serem vencidas. Pois é, será que não acontece a mesma coisa com o autoamor? Será que você se ama e só não consegue ver isso?

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O nirvana do amor próprio

Em algum lugar da nossa cabecinha iludida a gente acha que vai um dia chegar a esse momento onde a relação consigo vai ser pura tranquilidade e autoestima bombando. A cada passada na frente do espelho vamos dizer "nossa, você tá gata, hein" e vamos andar sorrindo pelas ruas com a certeza do nosso amor interno depois de noites de sono bem dormidas.

Gatão e gatinha, esqueçam essa paz interior! A psicanálise já diz há muito tempo que a nossa cabeça é um campo de batalha. Você tem dentro de si várias instâncias que brigam entre elas, cada um com objetivos e quereres diferentes. Ou seja, uma novela mexicana 24h dentro de si. Aceita que dói menos! Peraí, pra que tô lendo esse texto então? Pra jogar fora essa idéia inatingível e partir pra um caminho possível nesse caos. 

Abrace seu caos

O primeiro passo pra se amar é jogar fora essa ilusão de amor como lugar tranquilo e aceitar o conflito como parte da experiência. Saiba que muitas vezes você vai duvidar do seu valor e se sentir um merda, vão ter dias que você não vai aguentar conviver consigo mesmo e você vai se arrepender de muitas escolhas. Mas em nenhum desses momentos você pode se culpar por estar sentindo isso, simplesmente porque isso é ser humano. 

É sobre aceitar que somos seres inconstantes, às vezes incoerentes, que não somos nem um pouco perfeitos e que aprendemos quebrando a cara. É sobre aprender a conviver com a confusão interna e não querer que ela acabe, ter paciência com os dias ruins e lembrar que eles vão passar. É sobre reconhecer os erros, pedir desculpas e parar de querer atingir um autoamor-good-vibes. Se amar é justamente aceitar o que temos aqui e agora na fila do supermercado e parar de achar que a felicidade tá lá quando você estiver tomando champanhe no banho de espuma tipo uma linda mulher.

É namoro ou amizade?

Também não rola esperar uma paixão consigo mesmo arrebatadora. Assim como o "amor vida real", o amor próprio é uma construção diária com avanços e retrocessos. Nunca vai chegar esse dia que você vai acordar magicamente amando seu corpo e suas rugas. Pra se amar, você não precisa se apaixonar por si mesmo (não vamos confundir narcisismo com autoamor), mas construir uma amizade com muito afeto. Então por que não aproveitar que temos várias vozes dentro da gente, pra se permitir falar consigo mesmo como se tivesse falando com um amigo? A gente zoa o amigo, dá risada das roubadas, dá bronca quando precisa mas nunca a gente quer colocar ele pra baixo não é? (Aliás se você tem alguma uma amizade que te faz sentir mal, foge que isso é amigo-lixo). 

Então bora construir essa "autoamizade": aceitar esse nosso jeitão caótico, se dar conselhos, se permitir rir das cagadas e algumas vezes se permitir viver momentos difíceis juntos, só fazendo companhia em silêncio com a sua banda de rock-deprê tocando ao fundo. Uma companhia sincera e não alguém te que te bajula – mesmo porque a gente acha que é falsidade quando a pessoa só te elogia o tempo todo. Diz se o amor próprio se torna muito mais possível quando a gente pensa nele como uma amizade sem tanta idealização?

 

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Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.