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Relacionamentos: você também tem medo de morrer sozinho?

Soltos S.A.

11/05/2020 04h00

Fonte Freepik

Volta e meia eu tô com a cabeça no travesseiro, quase dormindo e vem aquele pensamento do nada: e se você morrer sozinho? E se você nunca encontrar alguém pra construir "uma história"? Acho que toda pessoa que está solteira há algum tempo, volta e meia sente esse medo. E essa pira ficou ainda mais forte agora na quarentena; quando os solteiros estão literalmente de mãos atadas. O medo nem é tanto da cena final propriamente dita: um velhinho solitário em uma cama de hospital (que também é tenebrosa)… O medo de não passar pela experiência de viver a dois ou de ter filhos – seja no modelo que for – e envelhecer solitário.

Culpa do ciático

Depois dos 35, por mais que você ainda seja um adolescente tardio, o corpo já não tem mais tanto pique de sair pra noitada e virar uma noite te deixa com ressaca por uma semana. Aí bate uma vontade de sossegar o facho, aquietar, mas a dúvida cruel é: com quem? Olho nas redes sociais as fotos de amigos de infância e colegas de escola que casaram, alguns tiveram filhos, e não consigo me imaginar naquela vida de comercial de margarina com labrador… Em algum lugar da minha cabeça ressoa a história infantil da cigarra e da formiga: eu curtindo a vida adoidado enquanto todo mundo foi se arranjando, construindo uma família e de repente você é aquele último bêbado chato da festa, sozinho e sem ter pra onde ir. Eu amo a minha vida solta, mas fico imaginando como vai ser daqui a 20, 30 anos. Será que eu ainda vou gostar das minhas escolhas de hoje?

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Casamento não é garantia nenhuma 

Por mais que toda criança dos anos 80 e 90 tenha essa imagem idealizada de um casal de velhinhos fofoletos se fazendo companhia, os dados nos mostram que a realidade não é bem essa. Nos anos 2000, o número de divórcios entre pessoas com mais de 60 anos nos Estados Unidos dobrou em relação à última década. É o fenômeno dos divórcios grisalhos, talvez um efeito do "já que agora vou viver mais 30 anos, não quero esse traste do meu lado". Agora você imagina ter dedicado anos e anos da sua vida a alguém e receber um lindo pé na bunda aos 75? Longe de mim querer dizer que essa relação "não deu certo", até porque acho que as relações duram o tempo que duram e a experiência é o que vale. Mas dentro da minha pira, a ideia de casamento seria alguma segurança pra não envelhecer sozinho. E pelo jeito vai ser cada vez menos. Fora os casos de solidão compartilhada dentro de casamentos, onde a companhia física não significa que o casal se sinta menos sozinho. Nesse caso talvez filhos sejam uma opção mais segura?

Seu filho não é seu

Por mais que muita gente possa não admitir, eu já percebi que algumas pessoas pensam em ter filhos como uma espécie de "previdência privada" contra essa ideia de envelhecer sozinho. Sinceramente acho esse pensamento bem mesquinho e egoísta, como se fosse "obrigação" dos filhos cuidar dos pais idosos. Claro que filhos em geral cuidam dos pais, assim como os pais cuidaram deles quando eram pequenos, porque existe amor. Mas quantos exemplos de filhos que mal ligam pros pais você tem à sua volta? Existem muitas razões para colocar alguém nesse mundo doido, mas não acho que uma delas deva ser essa expectativa de ter alguém pra cuidar da gente. Expectativas e relação são duas palavras que não costumam funcionar juntas. Então só me resta economizar para o asilo?

Calma, há luz no fim do túnel

A gente já entrevistou a futurologista Lydia Caldana e ela confirmou que o "felizes pra sempre" acabou real oficial: vamos ter cada vez mais relações mais curtas ao longo da vida, mas nem por isso elas vão ser menos significativas. Não é melhor nem pior, só diferente. O modelo de família também vai mudar e a criação de filhos vai ser feita por uma rede de apoio que pode contar com amigos, vizinhos, tios. O futuro é comunitário. E do mesmo jeito que hoje estamos no coworking, podemos pensar em uma co-velhice. Por que não cogitar uma comunidade de velhinhos soltos? 

Imagina só: você e seus melhores amigos morando em um condomínio, dividindo tarefas e com direito a bailinhos com músicas dos anos 90? Faz sentido pela divisão de custos e pensando agora me parece um envelhecer muito mais divertido que o casal sozinho em casa. Sei que muitos amigos já se imaginaram assim de brincadeira, mas pode ser uma possibilidade muito menos idealizada e muito mais possível que as anteriores. Então a dica é: ao invés de investir seu tempo hoje em busca de novos candidatos para o mozão 2062, que tal investir seu valioso tempo na construção de amizades sólidas? Nada é garantido nesse mundo, mas a chance de levar uma pé na bunda de um amigo é bem menor que de um crush, te garanto!

 

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Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.