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Depois de repensar o consumo, vamos construir relações sustentáveis?

Soltos S.A.

20/05/2020 04h00

fonte: br.freepik.com

Se tem um fator minimamente positivo a que todo esse caos gerado pelo Covid-19 tem nos impulsionado, é a necessidade urgente de repensarmos nosso consumo e nosso impacto no mundo. Eu tenho questionado muitos valores e hábitos que viviam no piloto automático e, segundo pesquisas, não sou a única. 3 a cada 4 brasileiros diz que vai reduzir o consumo e, ainda que haja um fator recessão econômica que propicie essa freada, percebo que há também uma nova sustentabilidade surgindo por aí. Finalmente as pessoas parecem estar entendendo que ser sustentável vai muito além de reciclar o lixo ou aderir ao #segundasemcarne fazendo post de prato vegano de um restô descolado de Pinheiros. Ser sustentável é sair do nosso próprio umbigo e pensar como nossas ações impactam o coletivo.

PEQUENO MANUAL PARA RELACIONAMENTOS SUSTENTÁVEIS

Eu Carol, que conto com anos de pista de solteirice, sei bem que temos vivido em uma era de solteirice mundo cão onde as relações são tão descartáveis quanto as embalagens de delivery. A era do fast-food e fast-fashion gerou também fast-fodas com pouca entrega e muito lixo. Ficamos eufóricos em acumular milhas, acumular likes, acumular dívidas nas parcelas do cartão de crédito… e temos acumulado também promessas de dates, possíveis paqueras e muitos crushes lixo. Já que estamos abertos a sermos mais humanos e sustentáveis, não seria a hora de trazermos a lógica da sustentabilidade também para as relações? Por que não aproveitarmos o momento "mão na consciência" pra frear também o desmatamento de corações? 

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MENOS É MAIS – ABAIXO AO CONSUMISMO AFETIVO

Já deu pra entender que a gente não precisa sair comprando 28 blusinhas, 12 sapatos ou 5 jogos americanos com estampas diferentes né? Também não precisamos acumular matches no Tinder ou pseudo-paqueras de inbox de instagram, happy hour da firma e bebedouro da academia. Não sei vocês, mas para mim de nada valeram os 312 mini-flertes que eu tinha pré-covid. Agora que o calo apertou, a gente percebe que peneira, peneira e quase não sobra ninguém com quem a gente queira se abrir de verdade e se sinta confortável nesses dias não-instagramáveis. De novo vale a lógica da blusinha: pra que comprar a regata recém-lançada que provavelmente foi feita através de mão de obra sub-valorizada e não vai durar 3 lavagens? Cansei de acumular primeiros dates de conversas com menos qualidade que o infâme tecido da blusinha. Melhor buscar relações de maior qualidade, que vão nos dar mais satisfação. Provavelmente vão ser menos encontros (assim como menos blusinhas). Vamos poupar energia, economizar saídas, focar… mas a chance de serem encontros com mais qualidade, troca e satisfação, são enormes. 

SLOW DATING

O movimento slow ganhou força nos últimos anos e nos convida a desacelerar e mandar um beijo pra neurose de achar que as coisas só darão certo se a gente for muito intenso e colocar o máximo de energia possível nas atividades (alguém ai já mandou 6 mensagens seguidas pro crush pra tentar segurar a relação?). Hoje já existe o slow design, slow food, slow travel… ou seja, as pessoas entenderam que é mais gostoso desfrutar a comida devagar, apreciar as paisagens com calma… Por que não fazer tudo isso nos encontros amorosos? Quero lançar aqui o slow dating. No slow dating a gente se propõe a ir com menos ansiedade e, por estar presente, a gente começa a prestar atenção nas particularidades da pessoa; se permite ouvir sobre a viagem de pesca que ele fez com o avô em 92, se abre para se encantar pela forma como ele mexe no seu cabelo cantarolando Caetano baixinho. No slow dating a gente respeita o ritmo e o processo do outro (e para de ter gastrite toda vez que o crush visualiza e não responde). No slow dating a gente aprende a viver um dia de cada vez e curtir o momento (e não já entrar na pira se vai rolar convite pro segundo date enquanto você ainda tá no primeiro drink). Diz se não é muito mais gostoso, saudável e sustentável? Eu, pelo menos já cansei das minhas mini-crises de ansiedade por querer que as coisas engatassem rápido. Essa nóia da velocidade só desgastou meu estômago e as pseudo-relações, que acabaram nem indo pra frente.  

NÃO TIRE MAIS DO QUE A TERRA PODE DAR 

Na relação com a terra, parte da sustentabilidade está em entender a capacidade que aquele solo tem em produzir determinado volume de alimento. Cuidar dessa terra é respeitar esse limite e não querer impor nossa expectativa sobre ele. Olha aí o gancho pros dates sustentáveis: é preciso ser honesto com o quanto de amor e entrega você está disposto a doar para aquela relação e ser maduro para entender o quanto o a terra que compõe o coração do seu crush está em fase fértil de amor. Não adianta querermos plantar dúzias de mudas se aquele solo só tá topando uma arvorezinha por vez. Eu já me esfolei muito em relações desiguais. Sabe aquelas em que você tá pronta pra se jogar em noites sem dormir buscando um apê fofo no zapimoveis pras vocês morarem juntos e se dá conta que o cara só quer uma ficada esporádica que inclui mais transas no carro do que qualquer outra coisa? E também aquelas onde eu nem tava tão apaixonada mas ia levando um caso com um cara que era doido por mim e fazia uma massagem maravilhosa nos meus pés. Tava sendo egoista mas não queria abrir mão daquele afago nas minhas noites carentes de TPM … Tudo errado

RESPONSABILIDADE AFETIVA E O FIM DO DESMATAMENTO EMOCIONAL

Ser sustentável nos relacionamentos é também ser honesta na hora de colocar os pontos finais. Não dá mais pra gente sumir na nuvem de fumaça ou ir jogando desculpinhas esfarrapadas pro crush pra empurrar a história com a barriga.   Quando fazem isso com a gente é chuva de xingamento mas no meu momento revisão de valores vejo que algumas vezes já deixei histórias nas reticências (como essa do moço massagista de pés) só pra poder ter a possibilidade de reativar o tal crush em dias frios. Teve um casinho para o qual eu falei que tinha feito uma limpeza espiritual e não poderia beijar ninguém por 90 dias só pra não sair com ele, acreditam? Não dá né? cada escolha uma renúncia, já diria minha avó. A gente não é obrigado a querer estar com as pessoas pra sempre, mas é de bom tom (e altamente sustentável) que a gente cuide dos fins assim como cuidados dos começos. Uma conversa sincera e carinhosa não mata ninguém, não acham?

 

Se você quer saber como sobreviver à solteirice em tempos de likes, segue a gente no YouTube e no Instagram. Toda semana a gente entrevista solteiros, especialistas e divide nossos aprendizados e teorias. Mande histórias e dilemas que a gente transforma em pauta!

Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.