Mulher solteira, aqui vai o conselho de um amigo gay: que tal se aceitar?
Todo dia eu ouço o sofrimento das minhas amigas heterossexuais e solteiras por não atenderem as expectativas sociais que foram colocadas nelas e penso, "poxa, porque elas não conseguem mandar um beijo pra opinião alheia e ser feliz como são?" Aí olho pra minha história e penso que é porque elas não tiveram que sair do armário.
No mês do orgulho, venho aqui fazer uma provocação às mulheres solteiras: você já pensou como seria sua vida caso você fosse lésbica? Não tô falando pra você se imaginar em cenas tórridas de amor com uma pessoa do mesmo sexo (que, pra mim, é a parte boa, rs), mas já pensou tudo que você teria que enfrentar na sua família, com seus amigos e nas ruas? Ser LGBTQIA+ não é fácil (e é ainda muito mais difícil pra alguns que pra outros), mas uma coisa a gente aprende rápido pra poder viver a nossa vida: nós não vamos esperar aprovação alheia e não vamos dar importância para o que os outros pensam da nossa vida. A gente sabe que nunca vamos agradar grande parte da população que é LGBTfóbica, então pra preservar nossa sanidade mental, a gente aprende a ligar o botão do foda-se. E venho aqui pra te dizer: aprenda a fazer o mesmo pra ser feliz!
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Oi gente, sou bichona, tá?
Eu tive o privilégio de crescer em uma família que nunca me rejeitou por ser gay. Privilégio porque muita gente é expulsa pelos pais de casa pelo simples fato de estar beijando a boca X e não a boca Y. Mas também não posso falar que o processo de me entender gay foi super fácil.
Cresci no mesmo Brasil homofóbico que você, onde somos ensinados que o pior xingamento que qualquer garoto possa receber é gay, viado, boiola… Então, no momento que você se dá conta do seu desejo homosexual, a primeira coisa que você sente é repulsa. Depois vem a vergonha. Depois o medo, principalmente o de decepcionar a família e os amigos. E pode ser que seus pais sejam super de boas, mas às vezes o preconceito internalizado dentro de você é enorme e isso gera muito sofrimento. E depois de algum tempo com essa dor crescendo no peito, chega o dia que você finalmente consegue juntar toda nossa força pra falar pras pessoas que te importam: "então, eu sou gay, viado, boiola, bichona e tudo mais que você quiser. Esse sou eu." É um alívio sem precedentes.
A saída do armário
Nesse momento de saída do armário rola muita tensão porque a gente nunca sabe o que esperar: vou perder meus amigos? vão me olhar torto? Pra minha sorte, não tive perdas, só livramentos… Mas, apesar de toda a loucura desse momento, há uma delícia também porque quando você assume sua sexualidade, você entende que não vai atender às expectativas que a sociedade colocou em você desde quando você tinha 5 anos e os tios já perguntavam "e as namoradinhas?". E isso é extremamente libertador.
Adeus família Doriana
A sensação desse momento é que você tem uma página em branco. Você não tem mais que se encaixar no roteiro dos filmes que você assistia na sessão da tarde, até porque em nenhum deles o menino se apaixonava pelo galã e eles viviam felizes para sempre…. Você vai ter que inventar seu próprio roteiro. E nessa hora que eu despiroquei.
É muita possibilidade. Você, que esteve aprisionado tanto tempo dentro de si, de repente descobre noitadas com amigos que te aceitam como você é e começa a viver amores dos quais não existem definições claras como na heterossexualidade. A cada amor, temos que discutir abertamente as regras, porque não existe um contrato padrão pra relações gays. E depois de um tempo de experimentação, você passa a entender o que te faz feliz e a partir dali você dá uma sossegada. Mas o importante é você se pesquisou, se permitiu viver coisas diferentes e principalmente entendeu o que te faz feliz. Isso é autoconhecimento.
Saia do armário você também!
Então amiga que esteja lendo esse relato, proponho que você saia do armário e se assuma do seu jeitão. E calma, não tô falando pra mexer na sua sexualidade, na verdade é exatamente o contrário. Minha sugestão é que você entenda que ela é única, que você não deve satisfações a ninguém, que você tem direito a não seguir o roteiro padrão e pesquisar qual modelo te faz feliz.
Tudo bem se teu pai queria que você tivesse se casado com seu namorado de sete anos atrás e já tivesse um casal de filhinhos pra ele brincar. Isso é o que ele quer, não o que você quer. Meus pais também tinham planejado uma família Doriana pra mim e eu aceitei que não vou cumprir esse papel. E tudo bem, eu não vou mudar quem eu sou.
Ao invés de sofrer anos e anos nos almoços de família, é melhor ter coragem de peitar e falar: "Pai e Mãe, essa sou eu, eu amo meu trabalho e meus dois gatos, eu sou foda do jeito que eu sou e se eu tiver decepcionando vocês de alguma maneira, só lamento. Vou continuar amando vocês, mas não vou ser quem vocês querem que eu seja e sim quem EU quero ser." E ponto final! Vai ser um baque no começo, mas depois vai ser um alívio.
Chega um momento da vida que a gente tem que parar de sofrer porque quem somos e passar a se amar, com todas as coisas que os demais julgam defeitos ou falhas morais. Até hoje eu sinto olhares de reprovação quando saio de mãos dados com um boy na rua, mas sabe o que eu penso sobre essas pessoas? "Pobre deles, que se preocupam mais com a vida alheia do que com a própria. vão ser feliz e parem de fiscalizar a vida dos outros." Feliz mês do orgulho!
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