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Testei as lives de bares no insta, novo point da paquera. Como se dar bem?

Soltos S.A.

29/04/2020 04h00


Crédito: Freepik.com

Sexta-feira, 24 de abril de 2020. Dia sei lá quanto de confinamento. Já nem lembro qual foi a última vez que saí de casa. Solteira há seis anos, sempre amei esse status "sem acompanhante" tanto para curtir minha própria companhia, como pela liberdade de sair para descobrir lugares novos, programas novos, pessoas novas e, por que não, paqueras novas né? Mas como paquerar agora, em tempos de isolamento? Primeiro me joguei os apps de paquera. Não rolou. Tentei também aquela requentada básica de ex-crushes. Mas, passada a carência, a gente lembra por que mesmo aquelas histórias não foram pra frente. E agora, como proceder? 

BEM VINDXS AO MARAVILHOSO MUNDO DOS INFERNINHOS VIRTUAIS NO INSTAGRAM

Eis que descubro que tá rolando um novo point da paquera: As lives de bares descolados de SP e do Rio no Instagram. Sabe aqueles inferninhos com pouca gente mas um enorme aproveitamento? Aquele povo descolado, meio hipster, fã de gin tônica e de playlists que mesclam indie rock, dance anos 70 e 80 e umas brasilidades desconstruídas? Esses lugares foram transportados pro universo digital. E a paquera e pegação virtual tão rolando soltas. Abri um vinho rosé, conectei meu celular na caixinha de som no último volume, fiz um climinha meia luz jogando um pano vermelho em cima do meu abajur (rezando para não incendiar a casa) e me joguei  nesse point novo com o coração batendo rápido como naquela primeira vez que você passou pela hostess da tal festinha privê num prédio abandonado do centro de São Paulo.

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A COISA MAL COMEÇOU E JÁ ROLAM OS "HABITUÉS"

Entrei na live de uma DJ descolada que já tava fazendo a tal pistinha pela terceira vez, frequência suficiente pra já criar a turma que se intitula "povo do front". Front é aquela área bem na frente da cabine do DJ, sabe? Pois é? Essa turminha já tá dançando virtualmente por lá e já troca mensagens com indiretas apimentadas e piadas internas. Eu, minha taça cheia, minha calça de moletom já meio sem elástico e meu rabo de cavalo domando o cabelo sem lavagem há 3 dias, nos sentimos meio deslocadas. Fechei meus olhos e me vi no meio da balada. Eles de lurex e negroni e eu com o look pijama sem saber como interagir… Dei um bom gole no meu vinho, servi a segunda taça e decidi que ia aprender a brincar nesse playground da paquera na pistinha virtual. 

SAI ESCREVENDO QUALQUER COISA PRA APARECER

Minha avó já dizia "quem não é visto, não é lembrado". E nessas lives o único jeito do povo saber que você tá lá, é através dos comentários. Eu e minha calça de moletom desbotada ficamos observando como os habitués tavam se comportando pra sacar quais eram os novos códigos da paquera. Logo percebi que se dava bem quem saia metralhando frases divertidas sem parcimônia, de preferência com humor e convites. Faz sentido né? E só pensar no chat da live como um papo de bar mesmo. Interagir com o outro é sempre mais sexy do que falar só de você. Fiz a própria aluna sentada na última fileira da classe e, na cara de pau, colei os assuntos dos CDFs da paquera no instagram. Vi o que tava funcionando com eles e fui escrevendo conforme bebia meu vinho, sem moderação.

1.DRINKS – Ainda o melhor quebra-gelo. Quando escrevi "abrindo a terceira garrafa de vinho aqui, quem também?" tive chuva de interações. (Na verdade tava na terceira taça… mas  ninguém precisa saber né?)

2.MÚSICAS – Tocou um hit que era meu hino aos 20 e poucos anos e eu joguei um "saudades Milo garage" (o nome de uma baladinha hipster que foi sucesso nos anos 2000 em SP). Batata! Toda a legião de órfãos do Milo no mais puro estilo camisa xadrez e barba por fazer vieram fazer coro no meu comentário. Sucesso!

3.DESCREVA SEU ESTADO DE ESPÍRITO – Já tava me soltando na sala de casa e batendo no abajur dançando, quando observei um povo sensualizando nos comentários de forma mais ousada: Sabe aquela rebolada que você daria na pista da vida real? Elas tavam realizando o mesmo movimento com as palavras (sem correr o risco de fisgar o ciático). Rolou um "agora a calcinha caiu!" que foi chuva de interações! Admirei a menina que escreveu,  mas confesso que já não sou a diva do requebrado com meu quadril real. Nas palavras fiquei meio travada nessa tática. Quem sabe na próxima pistinha….

4.CONVITE PARA PASSEIOS PELA BALADA – Por mais non-sense que possa parecer, alguns dos comentários que mais geraram interações foram frases como "to indo no bar, alguém quer um drink" , "vou ali na varanda e já volto, quem vem comigo" ou "to indo dançar na frente da DJ, bora?". Tava me sentindo numa versão hipster descolada do que os geeks já vem fazendo com os jogos online há anos, tipo convidando pra destravar uma fase nova de um videogame. Mas confesso que quando me aventurei a fazer o convite pra dançarmos no front, ninguém respondeu. Me senti deslocada de novo. Fui pro cantinho da minha sala e bebi mais um longo gole do vinho.

5. FAÇA AMIZADE COM O POVO BEM-HUMORADO PRA SE ENTURMAR

Depois de algumas frases jogadas no chat sem muito retorno, fui ficando mais retraída e já mini-desesperançosa de conseguir chegar ao final do evento com um novo crush. Mas aí me veio uma luz: Ao invés de focar na paquera direto, eu deveria me enturmar e fazer amigos primeiro. Dançando numa rodinha descolada paquerar pode ser mais fácil. não acham? Comecei a interagir com o tal "povo do front": a cada comentário que elas faziam, eu respondia que tava bebendo o mesmo drink (mentira!), que tava no mesmo desespero para ligar pro ex…. identificação virtual funciona igual! E como esse povo é falante e aberto, rapidamente eles respondiam.  Já devidamente enturmada, acabei aparecendo nos comentários da live com frequência, o que achei que aumentaria minhas  chances de ser vista pelos crushes interessantes.

6. A FOTO DO SEU PERFIL É MAIS IMPORTANTE DO QUE NUNCA

Essa dica é básica mas vale ouro: a única coisa que as pessoas vão ver é a aquela bolinha com sua fotinho do perfil do instagram ao lado das frases que você metralhar. Ou seja, nada de fotos artísticas, de paisagem ou sem muito close. Pra paquera funcionar nas lives, aposta num superzoom do seu rosto sem medo. Aqui é melhor não inventar muito: fotos olhando direto pra câmera, com iluminação clara e sem adereços (chapéu, óculos escuros etc) são as que mais funcionam para as pessoas conseguirem ver quem você é e iniciarem a paquera.

7. VAI ROLAR PRINT DA TELA E ZOOM NO ROSTINHO

Achei um cara gatinho e bem-humorado e mini-apaixonei pela tal microfoto do perfil. Fui clicar pra paquerar e…. não rolou. Nas lives não dá pra clicar no perfil da pessoa que tá comentando e ser direcionada ao feed dela. Entendi que essa nova paquera ia precisar de estratégia e paciência. O que eu fiz: toda vez que aparecia um cara interessante fazendo comentários na live eu respondia ele printava a tela do celular. Assim tentava interagir ao vivo e guardava o nome para uma stalkeada mais apurada depois. Quando me dei conta, já tinham 32 prints novos no meu rolo de câmera… será que alguém estava atirando para todos os lados?    

8. STALKEIA UM POUCO, DANÇA UM POUCO

Fui afoita e me perdi nesse stalking. A cada print que dava eu saia da live rapidinho, dava uma stalkeada no perfil do crush pra ver se ele era mesmo tão interessante quanto pareceu pelos comentários e pela microfoto e voltava para a live para tentar interagir com ele na pistinha virtual. Não funcionou. Toda vez que eu voltava rolava um delay no meu 4G, o tal crush já não tava fazendo comentários ou tava engatando o papo com outras pessoas…. aprendi que das próximas vezes é melhor deixar para stalkear tudo no dia seguinte. Acho que durante a live é melhor paquerar sem muito critério mesmo!

9. UM CHOVE MAS NÃO MOLHA

Saquei que essas lives de bares são delícia pra desopilar, dançar até o chão e começar as interações. Mas como é muita gente escrevendo junto (e bebendo um monte em casa pra segurar a rebordosa desses dias), durante os sets vai ser difícil engatar um flerte mais focado. Quando me dei conta estava dormindo no sofá, alcoolizada e a única novidade era uma mancha de vinho no tapete. Nada de novos crushes. Já tava desolada, mas entendi que se tivesse estratégia e paciência, nem tudo estava perdido.

10. TENTANDO SALVAR NO PRIVADO

No dia pós balada, aproveitei meu mood da ressaca e comecei a seguir os pretendentes nos 32 prints que eu tinha dado na noite anterior. Fiz aquele combo básico de dar like em 3 ou 4 fotos deles (umas mais antigas pra mostrar que você deu aquela passeada pelo feed e mescla likes de fotos de rosto, de paisagens/viagens e fotos com turma/familia) e puxar papo no inbox. Sai metralhando mensagens parecidas pra todos. Elogiei o fervo da noite anterior e perguntei se eles sabiam quando seria a próxima (eu sei quando vai ser, mas sempre acho que vale fingir demência em prol de um puxa-conversa). To aqui esperando pra ver o que rola…=

11. VOU GRUDAR NESSE POVO! ME AGUARDEM 

É… essa minha primeira vez na live não foi exatamente um arraso na paquera. Tudo bem. Na minha primeira baladinha de adolescência terminei a noite vomitando Sex on the beach no carro do meu pai. Tá tudo certo. Bora praticar.  A meta agora é colar nessa DJ e no tal "povo do front" interessante pra me tornar uma habitué também. Me aguardem, quando vocês menos esperarem, serei eu que estarei metralhando as piadinhas picantes e chamando o povo pra dançar pertinho da cabine. prometo que se você for nova por lá vou responder todas as suas mensagens e levantar a bola pra você cortar e flertar também.

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Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.