Tô sem libido alguma e isso está sendo libertador!
Assim que a quarentena começou eu tava subindo pelas paredes, talvez pelo gosto pelo proibido ou mesmo pra querer me sentir vivo em meio a tantas notícias ruins. Mas agora, quatro meses depois da última troca de olhares em uma balada, já não sinto a menor vontade de abrir um aplicativo de paquera ou mesmo de me masturbar. Na verdade, só de pensar em começar um papinho pelo app já sinto uma preguiça enorme.
Em um primeiro momento comecei a achar que tinha algo de errado comigo e isso me preocupou, afinal de contas sempre fui escorpiano com fogo no rabo e cogitei até um problema de saúde. Mas depois que aceitei meu fogo baixo, confesso que estou adorando dar umas férias pra minha vida amorosa – coisa que nunca tinha feito até hoje!
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Paquerófilo
Talvez pelo nosso sangue latino e pela herança das novelas, eu sempre senti uma espécie de dever mitológico de ser solteiro no Brasil: estar constantemente buscando oportunidades de desejar e ser desejado. É como se existisse um mini carnaval interno que sempre está prestes a acabar. E não vou mentir, o flerte sempre foi um dos meus esportes favoritos! Não há nada melhor que sentir aquele frio na barriga, vencer o medo, atravessar a pista de dança e ir puxar papo com o gatinho que você cruzou o olhar saindo do banheiro. Ou mesmo no digital, quando a gente consegue puxar papo com o crush no direct depois de usar a técnica dos três likes. Ou seja, sempre pratiquei a paquera de maneira regular.
Síndrome de abstinência
Nos dois primeiros meses da quarentena gastei muito tempo no Tinder, me sentia como Charles Chaplin em Tempos Modernos, repetindo os movimentos que fazia antes, mas agora com que objetivo? Pra acumular matches? Não consigo investir minha energia em um flerte sem a perspectiva de encontrar cara a cara. Talvez eu seja vintage demais.
Fora que com tanto chão pra varrer e tanto pacote de batata frita pra dar banho, aonde eu iria arrumar disposição pra me dedicar à paquera virtual? Resultado: fui tendo cada vez menos vontade de gastar parte do meu dia batendo papo com completos estranhos. Passava dias sem responder os crushes, me sentia culpado, mandava mensagens pedindo desculpas. Mas aí me questionei: pra que me forçar a fazer algo se não tenho sentido vontade naturalmente? Foi nesse momento que me soltei do hábito de paquerar.
Pãodemia
Dizem que um dos hits da quarentena é fazer pão em casa. Confesso que entrei pra estatística. Estou passando a quarentena com meus pais e minha irmã então, além do pão, comecei a me aventurar cada vez mais na cozinha fazendo as refeições da casa. O tempo gasto na cozinha me rendeu (além de 7 kg a mais), muitas conversas que não tinha há anos com meus pais. A vida tava sempre corrida demais. Nos aproximamos, contamos histórias, brigamos e demos risadas. Me senti conectado com eles de novo. Comecei a fazer uma horta, arrumar coisas na casa e ler livros que estavam parados na estante há meses. Faço 497 zooms de trabalho por dia. Ou seja, o meu tempo e minha libido estavam distribuídos em todas essas atividades que não faziam parte da minha vida de antes. Comecei a entender que minha libido não tinha sumido, ela tava só em outro lugar.
Todas essas coisas eram muito mais concretas e muito mais satisfatórias que conversas vazias e troca de nudes em apps de paquera. Quantas vezes voltei de um encontro pensando que teria ganhado mais maratonando uma série na Netflix. Aos poucos, meu cérebro foi se reacomodando a essas novas fontes de prazer e cada vez menos pensava em crushes ou me preocupava com os biscoitos no Instagram. Senti uma redução da minha ansiedade e dos pensamentos obsessivos. Na verdade eu nunca tinha percebido como a paquera me trazia ansiedade.
Me sentindo com 90 anos
Uma vez perguntei à minha avó (minha grande ídola) como era a sensação de ter 90 anos. Ela me disse algo que nunca esqueci: "É a melhor idade do mundo! Quando a gente é mais novo, não se dá conta do quanto a gente se preocupa pensando se vão gostar da gente, se nossos planos vão dar certo, se vamos casar ou não… Quando você fica velho, não se preocupa com mais nada. Você só vive.". E é assim que tô me sentindo, feliz e aliviado de não ter que me preocupar com minha vida amorosa.
Hasta la vista, baby
E antes que digam que estou advogando em favor da abstinência sexual, calma! Como eu disse no começo do texto, é um período sabático. Assim que as coisas voltarem ao normal quero voltar pro jogo sim – ainda não tirei o escorpião do meu mapa!Mas talvez volte com menos ânsia e escolhendo melhor aonde vou gastar libido e minha energia. Quando estiver em um período de seca amorosa (desses em que nada vingava e eu ficava insistindo e só me frustrava), vou lembrar que existem muitas outras fontes de alegria na vida e mudar o foco. A vida amorosa é ótima, mas ela não tem que ser o centro da nossa vida, pelo menos não o tempo todo.
Se você quer saber como sobreviver à solteirice em tempos de likes, segue a gente no YouTube e no Instagram. Toda semana a gente entrevista solteiros, especialistas e divide nossos aprendizados e teorias. Mande histórias e dilemas que a gente transforma em pauta!
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