Topo

Soltos

Será que a "não-monogamia" é pra você?

Soltos S.A.

05/08/2020 04h00

Será que você topa uma conchinha tripla? Fonte: Freepik

Eu nunca achei que relações abertas fossem pra mim pelo simples fato que sou escorpiano e, com isso, quero dizer que sou um tanto quanto ciumento. Mas essa semana fizemos no soltos uma live com a Mayumi Sato (que também é colunista aqui na Universa) e uma entrevista com a Anne Fonseca sobre não-monogamia; e, ouvindo essas duas mulheres maravilhosas, comecei a me questionar se eu deveria cogitar relações não-monogâmicas. Então pensei em trazer aprendizados dessas conversas que me fizeram repensar minhas relações. 

E antes que digam que estou aqui fazendo propaganda, é justamente o contrário. Esse texto é sobre não impor um modelo a todos e permitir que vários modelos de relação possam coexistir. Só você pode saber o que vai te fazer feliz: tem gente que é muito feliz sendo monogâmica, mas tem gente que se sente sufocada ou culpada por sentir atração por outros – isso sem falar na turma toda que trai e não sabe o que fazer com a traição né? #hipocrisia  

Veja também 

  1. Amar não esgota o desejo

A gente cresceu em uma cultura onde a monogamia é uma norma. Como se o amor só fosse"verdadeiro" quando não olhamos pro lado. A verdade é que confundimos um pouco as coisas: quando estamos apaixonados é realmente difícil querermos outra pessoa, mas a paixão não dura pra sempre, né amores?  Olhando pra trás vejo que essa ideia me fazia pensar que talvez eu não estivesse mais amando só porque estava afim de pegar outras pessoas. Na verdade tinha acabado aquela paixão louca, mas o amor continuava existindo. Então por que tenho que jogar fora tudo que a gente construiu só porque eu tive desejo de beijar uma outra boca? Será que não dava pra colocar as cartas na mesa com meu parceiro e reformular o acordo? A verdade é que desisti de relações valiosas por causa de uma idealização do amor romântico e hoje entendo que não era necessário. 

  1. A pressão da exclusividade

Quando a gente entra em uma relação monogâmica, de alguma forma parece que a pessoa tem que valer a pena "tudo que eu estou abrindo mão". Isso coloca um peso enorme sobre nosso parceiro porque ele tem que ser melhor que de todos os crushes potenciais (e que os passados). E adivinhem? É muito difícil estar à altura da projeção de todo o resto da humanidade somado. E já que eu estou abrindo mão de todas essas minhas possibilidades, o mínimo que espero é que ele abra mão também. Com isso, eu sempre exigi muitas provas de afeto e, qualquer desentendimento na relação alcança proporções gigantes porque não só me vejo frustrado pela situação em si, como também pelo fato de talvez ter escolhido errado e não estar aproveitando com as tantas outras pessoas. Estamos exigindo muito do amor. Sim ou com certeza?

  1. A vida deles não é paquerar 24h

Não é só porque você pode paquerar todo mundo que você tem que pegar todo mundo o tempo todo. A própria Mayumi confessou que mesmo vivendo um relacionamento aberto, eles passaram dois anos sem sair com ninguém simplesmente porque não tinham vontade. Aí fiquei pensando sobre o que é proibido, tipo quando minha mãe falava "não vai enfiar o dedo na tomada" e meia hora depois eu voltava chorando porque tinha levado um choque . A não-monogamia é muito menos sobre essa pressão por paquerar e muito mais para não deixar essa porta fechada. Isso me pareceu tão humano. É como se a gente simplesmente não negasse o fato de que a gente continua tendo desejos e quando surgir alguma oportunidade, a gente conversa e decide o que fazer sobre. 

  1. O ciúme nunca acaba

Nas minhas relações, quanto mais apaixonado estava, mais sentia ciúmes. Muitas vezes criei novelas mentais inteiras que vivia sozinho na minha cabeça, talvez como uma projeção de algo que, no fundo, eu tenha vontade de fazer, ou muitas vezes eu quisesse ter o prazer de me colocar na posição de vítima. E também já sofri com namorado possessivo, e nada que eu fizesse bastava pra deixar ele tranquilo, porque o ciúme não está nas minhas ações, mas na imaginação do coleguinha ciumento. E chega um momento no qual a relação vira puro desgaste, perde o brilho e inevitavelmente acaba. Mas tem que ser assim pra sempre?  

Mayumi disse algo que mexeu comigo "eu tenho uma relação aberta justamente porque sou ciumenta". E o primeiro pensamento que veio à minha cabeça conservadorinha foi: "Peraí, pessoas ciumentas não querem dividir o que é seu com outras pessoas." (Só aí já abre uma larga discussão porque ninguém "é meu" e o que é de fato dividir?) Mas o que me chamou a atenção nesse pensamento é que a relação não-monogâmica pode ser uma maneira mais adulta de lidar com o ciúme. Ao invés de tentar negar sua existência, se permita aprender com ele: por que essa situação é gatilho pro meu ciúme? Em geral ele tem muito mais a ver com nossa insegurança do que com fatos concretos, e lidar com essas inseguranças faz com que a gente vá crescendo e se conhecendo melhor. E aprendendo a lidar com os limites internos. 

  1. Eles não são seres ultraevoluídos

Eu sempre achei que relações abertas fossem coisa de "gente muito evoluída" e que eu nunca ia ter essa maturidade toda. Mas o que descobri é que pessoas em relacionamentos não-monogâmicos têm suas inseguranças e, de vez em quando, quebram o barraco, inclusive por ciúme. A diferença é que eles têm um canal aberto constante pra poder falar sobre o que sentem. Isso inclui os desejos de pegar outras pessoas ou falar sobre o dia em que elas quiseram matar o namorado porque ele riu da piada da sua amiga e não da sua. Eles não são sobre humanos, são apenas humanos e muito honestos. 

  1. Não é vale-tudo

Tem muita gente que diz que não está afim de cobranças e por isso quer uma relação aberta, como se isso significasse liberdade total. Não queridos, relação aberta não é fazer tudo que você quiser fazer, na verdade é o contrário disso. É conversar sobre todos os limites constantemente e definir em conjunto com a(s) outra(s) parte(s) o que pode e o que não pode. Então se você é uma pessoa que não gosta de "discutir a relação", melhor ficar sozinho ou na monogamia, porque a não-monogamia é muito, mas muito mais complexa. E não tem combinado pra sempre, as coisas mudam e casais não-monogâmicos podem fechar a relação e vice-versa. É sobre o resgate do compromisso consigo e com o outro. Não parece tão livre quanto a gente imagina né? E não é. 

  1. O jogo nunca está ganho

Um dos argumentos que a Mayumi falou na live que mais me provocaram foi que dentro de um acordo não-monogâmico, você tem sempre um incentivo pra conquistar a pessoa com quem você está todos os dias. Na monogamia eu tenho uma sensação de batalha vencida: é como se depois do pedido de namoro a gente se liberasse da função de conseguir que o parceiro se interessasse por nós. Como escorpiano, essa ideia me animou bastante porque adoro o jogo da conquista. Não é um bom incentivo pra pensar em nunca deixar a relação esfriar?

Eu fiquei muito mexido depois dessas entrevistas. Relações não-monogâmicas não são tão simples como pensamos, mas são muito mais possíveis quando pensamos que a base delas é o respeito e o diálogo. E depois de ler tudo isso, de repente você acha que a não-monogamia pode ser pra você?

Se você quer saber como sobreviver à solteirice em tempos de likes, segue a gente no YouTube e no Instagram. Toda semana a gente entrevista solteiros, especialistas e divide nossos aprendizados e teorias. Mande histórias e dilemas que a gente transforma em pauta!

Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.