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Por que comemorar o Dia dos Solteiros em 15/8 é um ato revolucionário?

Soltos S.A.

12/08/2020 04h00

Tá pronta pra festa? / Fonte Freepik: cookie_studio

Em um país que agora comemora dois dias dos namorados por ano (sim, porque além do nosso tradicional em 12 de junho, ainda importaram o Valentine's day em fevereiro!), não é muito sintomático que pouquíssima gente saiba da existência do Dia dos Solteiros que será comemorado em 15 de agosto? Até fizemos uma pesquisa na nossa base e, mesmo sendo um canal pra solteirxs, 90% dos nossos soltos nunca tinham ouvido falar da data. Alguns vão dizer que isso é uma bobagem, que não temos que gastar tempo e energia comemorando o fato de não estarmos com ninguém. Mas eu digo o contrário: comemorar o Dia dos Solteiros é um ato revolucionário e não tem nada a ver com festejar o egoísmo, e sim a autonomia de escolha e de pensamento.

Então, por que não aproveitar que estamos em um momento do mundo de revisão total, para rever nossa relação com a soltura? Pra além do individual, lidar com a solteirice de forma mais gostosa e saudável pode trazer transformações profundas nas relações como um todo. (Não é à toa que eu e Carol fizemos um canal só pra abordar esse universo). Neste texto vou tentar te convencer que o Dia dos Solteiros não é só mais uma data comercial, mais vou além: quero te convidar a tirar o próximo sábado pra festejar a sua própria companhia. Bora?

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Solteirice não é fracasso social

Infelizmente a gente não cresceu com exemplos de pessoas que estão solteiras e felizes. Parece que quem está solteirx, só está assim porque "não conseguiu arrumar alguém". E essa pressão não é igual para todos, as mulheres solteiras são muito mais cobradas que os homens. Ou seja, mais um privilégio masculino: o de não ter que justificar a solteirice. Só de parar pra analisar o modo pejorativo como a palavra "solteirona" é usada, dá pra gente sacar o peso que a sociedade atribui aos solteiros. 

Eu vejo diariamente o julgamento sutil que as pessoas (em especial outras mulheres) exercem sobre a Carol (que hoje está com 36 anos e soltíssima). São pequenos gestos disfarçados de carinho e preocupação: "gosto tanto de você, tomara que você arrume um namorado logo!" ou "deu certo com aquele moço lá?". E se ela responde que as coisas não foram pra frente, logo vem um "ai, que pena, estava torcendo por você!". Torcendo pra quê? Pra deixar finalmente de ser solteira? Acho que melhor seria torcer pela vida profissional das mulheres, mas do trabalho e ninguém pergunta. "Você pode ser bem-sucedida profissionalmente, ser uma super filha, amiga, reciclar o lixo, ser inteligente, engajada…. Se for tudo isso, mas estiver solteira, ainda será olhada com pena pelos outros, como se tivesse fracassado na vida por não ter um amor", comenta a psicóloga Ligia Baruch. E por que é importante que a gente reveja isso? Porque essa sensação de fracasso social e de menos valor tem um custo emocional na vida dos solteirxs. 

Metade da laranja não, um grapefruit enorme e inteiro

E se por um lado a solteirice é depreciada, as relações são colocadas na condição de boia de salvação. Desde pequenos, aprendemos através dos desenhos e filmes que somos "metade" e que temos que sair em busca de quem nos complete. O tal do "felizes pra sempre", a alma gêmea e a metade da laranja. Até o Google reflete essa ideia, já que uma das definições para solteiro no dicionário do site é: "que sente falta, que não tem ou não recebe (algo); carente, falto". Detesto ser a pessoa que traz más notícias mas, segundo a psicanálise e a filosofia, essa carência não é exclusiva dos solteiros: a falta é estrutural! Nos vendem a ideia de que existe alguém no mundo que vai nos fazer parar de sentir essa carência, mas a dura realidade é que essa pessoa não existe. Você pode estar com alguém e ser muito feliz, ou pode ser muito feliz sozinho, mas em ambos os casos a falta vai continuar lá. Nesse caso, melhor aprender a conviver com ela! 

Você quer alguém ou precisa de alguém?

Esses dois pontos são importantes pra gente saber diferenciar a vontade de estar com alguém, da pressão social pra deixar de estar solteiro. E é aqui que o bicho pega. Quando a solteirice é vista como fracasso social e quando a ideia de estar com alguém é vendida como paz e completude, a gente acaba se enfiando em muitas roubadas – inclusive relações abusivas – só pra não estar sozinho.

Ser um solteiro empoderado não significa que a gente não queira nada com ninguém ou que preferimos a solitude à estar com pessoas. São dois sentimentos que convivem numa boa: "quero encontrar alguém, mas não preciso encontrar alguém porque estamos (eu e minha falta) aqui curtindo as pequenas loucurinhas da vida solta". E assim as escolhas amorosas vão ser feitas de maneira mais autônoma, porque de fato a gente quer estar com essa pessoa e não porque fomos "incentivados" a pensar que a gente deveria ter alguém ao nosso lado. O efeito disso seriam relações mais saudáveis, porque a gente iria "elevar o sarrafo" e só trocar a solteirice por uma relação se essa pessoa realmente deixasse nossa vida melhor do que já está. 

Por isso é tão importante a gente celebrar a soltura. O empoderamento solto não é sobre achar que estar solteiro é melhor que estar casado (assim como o feminismo não propõe que mulheres sejam superiores aos homens), mas é um movimento de afirmação de igualdade e de reconhecimento que a solteirice é um lugar tão rico quanto as relações (que aliás, diga-se de passagem, de tranquilas nada têm). 

Sábado você tem um date

E agora vem o meu convite, que na verdade é um "autoconvite": proponho que esse sábado, 15 de agosto, você solteirx se convide pra um autodate. Assim como os namorados se preparam pro 12 de junho, pensam em pequenos agrados e dedicam o dia ao outro, tire esse dia pra você! Peça ou faça aquela comida que você adora, abra um vinho, se jogue em um banho mais longo, veja filmes que te fazem feliz ou fique sem fazer absolutamente nada.
É um dia pra você se conectar e ver a pessoa foda que você é, mas sem esse autoamor idealizado (já escrevemos sobre isso por aqui). Faça um exercício de olhar com carinho e humor pra sua trajetória: desde as tuas conquistas até os perrengues que você passou. Tudo isso te fez ser como você é e pensar como você pensa. Ninguém mais no mundo te vê como você vê. Respeite a sua história, abrace seu caos interno e depois me conta aqui se isso não faz você olhar pra solteirice com outros olhos.

Se você quer saber como sobreviver à solteirice em tempos de likes, segue a gente no YouTube e no Instagram. Toda semana a gente entrevista solteiros, especialistas e divide nossos aprendizados e teorias. Mande histórias e dilemas que a gente transforma em pauta!

Sobre os autores

Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).

Sobre o blog

Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.