Burnout afetivo: por que dá vontade de dar um tempo no amor?
Soltos S.A.
31/08/2020 04h00
fonte: giphy
Segundo o Ministério da Saúde, a Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional, estresse, exaustão extrema e esgotamento provocados por condições de trabalho desgastantes. Acontece que essas tais condições desgastantes têm rolado também na vida amorosa dos solteiros e, após vivenciarmos os efeitos colaterais do excesso de trabalho, estamos agora sofrendo com a fadiga crônica das relações que nos machucam e não vão pra frente.
Sabe quando você fala: "Não quero mais ficar com ninguém, vou apagar todos esses apps de paquera, cansei das histórias não darem certo, chega de fazer papel de trouxa!"? Bem-vinda ao time do burn-out afetivo. A verdade é que a gente fica exausta de mandar mensagem e não receber resposta, de entrar na pira de postar stories com indiretas sedutoras e se frustrar com uma visualização silenciosa; de achar que "dessa vez as coisas vão ser diferentes"… E o perigo de chegar nessa exaustão extrema é que tudo começa a machucar muito e qualquer contratempo na vida paquerativa ganha ares de tragédia grega. Sabe criança cansada que chora por qualquer coisa? Quando nosso coração tá cansado ele se comporta exatamente assim.
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Esse cansaço afeta muito nossa saúde mental, porque como a gente tende a supervalorizar o amor e como já estamos com os nervos à flor da pele (ao constatar que a vida amorosa anda totalmente cagada), amplificamos essa bagunça para outros aspectos da nossa vida. É como se o fracasso emocional contaminasse todos os campos da vida e isso gera uma espiral autodestrutiva que nos faz ter certeza de que as coisas só estão assim porque nós somos péssimas e que estaremos fadadas à amargura e à solidão (alô melodrama! Quem nunca?)
E o que tem causado e potencializado esse burnout afetivo? Trouxe aqui algumas constatações dos meus próprios fails amorosos e das muitas histórias que recebemos no inbox do Soltos s.a. e uma receita poderosa pra combater essa estafa crônica sem precisar apelar pra tarja preta.
A ilusão de que depende de nós
Da mesma forma em que vivemos uma era que supervaloriza a produtividade e o excesso de trabalho, nosso inconsciente coletivo (e nossas tias Cleyde intrometidas) nos estimulam a batalhar ao máximo pelo amor. Crescemos aprendendo que existe a tal metade da laranja e que se a gente se esforçar de verdade, uma hora essa pessoa vai aparecer e aí sim seremos felizes. Essa lógica torta nos leva à pira de que se nossa vida amorosa não está encaixada, é porque não estamos fazendo o suficiente por ela. Aí dá-lhe baixar mais aplicativos, requentar antigos casinhos, sair com gente que a gente já sabe que não tem nada a ver, ficar até o último minuto da balada pra ver se algo acontece… Os coaches de relacionamento estão ai ganhando rios de dinheiro vendendo fórmulas para mulheres querendo ser hiperprodutivas na paquera. Fico curiosa pra saber se no pacote de aulas vem uma caixinha de Lexotan. Estamos nos levando ao limite sem perceber e o perigo é que, quanto mais cansadas estamos, menores as chances de curtirmos os encontros ou tomarmos decisões sensatas.
Epidemia de falta de respeito
Infelizmente a falta de rótulos e formalizações nas relações têm servido como desculpa pra muita gente faltar também com o respeito com os coleguinhas. Todo dia a gente recebe um relato de alguém que recebeu um match seguido por uma mensagem grosseira num app; que saiu pra jantar com alguém e a pessoa não tirou a cara do celular; outra estava enrolada com um boy que começou a xavecar a amiga dela por inbox e tem sempre o clássico daqueles que fazem declarações de amor dignas de filme e somem na nuvem de fumaça (esse golpe virou hit na quarentena). Em tempos de Tinder e amores líquidos, estamos todos mais expostos ao risco. Com mais matches virtuais, mais canais de paquera e mais encontros casuais a gente aumenta exponencialmente a probabilidade de termos que lidar com faltas de respeito. Mas quando a gente encara uma sequência dessas pisadas na bola e no nosso coração, fica difícil não ficar com ele inflamado.
Unmatches precoces
Eu ando cansada de não passar no 3o date. Saio com os caras, o papo é bom, o beijo é bom, rola até sugestão de um próximo programinha gostoso para fazermos na semana seguinte e, sem grandes explicações, a história morre. Eles não me bloqueiam, não são grossos… simplesmente não dão continuidade à coisa – o que é até pior, porque quando o cara é babaca você pode ficar irritada por justa causa. Nem perco mais meu tempo pensando no que pode ter acontecido – será que eles conheceram outra pessoa? Voltaram com a ex? Estão com problemas na família?… não importa muito né? Importa que, mais uma vez, a coisa não passou do trailer. É exaustivo ficar nessa eterna "preliminar emocional" e quanto mais isso rola, mais eu chego armada nos dates como se pensasse "tá bom, esse 1o encontro pode até ser bom, mas como já sei que não vai vingar mesmo… melhor nem me animar". É como se um lado nosso já começasse a torcer pra não dar certo pra gente quebrar a cara logo: dói mas a gente sabe como é.
Expectativas frustradas
Outra causa bem comum do tal burnout é perceber que a gente entendeu tudo errado. Quantas vezes a gente não começa a sair com alguém e pensa: "acho que agora vai!" E a situação tá tão difícil que o "agora vai" não quer dizer "agora achei o homem da minha vida", é simplesmente um "agora acho que vou sair um mês direto, planejar o Réveillon, quem sabe…". É só aquele mini-frio da barriga e uma sensação de que essa pessoa e esse encontro serão diferentes. Mas os dias passam e a gente se dá conta de que a história mais uma vez se repete … mais um sumiço na nuvem de fumaça, mais um "não é você sou eu". Aqui rola o cansaço dos paqueras e um cansaço de nós mesmas. A gente começa a se sentir ingênua demais por criar expectativas. Eu já chorei algumas vezes me prometendo virar solteira cética pra sempre… (não funciou).
Cadê o frio na barriga que tava aqui ?
Mas nem só de crushes lixos é feito o burnout. tem horas que a exaustão bate exatamente por a gente não sentir mais nada. É tanto desencontro e tanta história morna que uma hora parece que a gente fica anestesiada. Ando meio cansada de não bater. Tô cansada de ir para dates mornos. A pessoa é legal mas não batem aquelas borboletas no estômago, aquela vontade de trocar o Netflix por horas de papo no Zoom. É claro que sei que nem todos os romances são paixão à primeira vista, mas como a gente já viveu encontros intensos, parece que tem um lado nosso que não quer se contentar com menos. Quando rola uma sequência de papos no app e encontros que não fazem a gente lavar-louça sorrindo enquanto pensa na pessoa, dá medo de nunca mais sentir o tal frio na barriga. Nessas horas vem a pira: será que virei aquelas tias amarguradas? (olha o preconceito internalizado aqui, hein, Carol!?)
Receita solta pra curar o Burnout afetivo: descanso e resiliência
Pra curar essa estafa emocional, divido aqui o que tenho tentado aplicar na minha vida, uma espécie de "soro caseiro do coração" com ingredientes simples mas altamente eficazes: descanso e resiliência.
- Se permita descansar
Assim como as crianças choronas se tornam anjos sorridentes após uma boa noite de sono e como a gente volta renovado pro trabalho depois de uma semana de férias totalmente offline, a vida paquerativa também melhora exponencialmente se a gente se permite pausar. Os crushes não vão sumir amanhã, o bonde não vai passar pra sempre, essa não será a última oportunidade pra flertar com o Claudio do RH. Se você tá sentindo que tá olhando a vida amorosa com descrença e exaustão, deixa ela descansar um pouco. Joga a libido pra fazer uma hortinha, curtir um banho com velas aromáticas ou passar a tarde de pijama vendo Uma Linda Mulher. Essas pausas fazem um bem danado pra alma e preparam a gente pra voltar pra pista mais disposta, prontas pro tal jogo.
- Lembre do Bambu
E por falar em jogo, vale lembrar do Silvio Santos e dos ensinamentos chineses que nos dizem que temos que ser fortes como bambus. Pois é, porque com a chuva e as rajadas de vento, os bambus pendem, vão até o chão, mas passado o baque se reerguem belíssimos. Vamos ter que ser menos carvalhos e mais bambus no amor: provavelmente a gente também vai ter momentos de ir até o chão, chorar, se sentir miserável e sofrer ouvindo Adele, mas com a prática, vamos aprender a nos reerguer cada vez mais rápido. A gente não vai quebrar, prometo! Bora descansar um pouquinho juntas?
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Sobre os autores
Piranhas românticas, André e Carol são experts em solteirice e partidários do afeto mesmo nas relações casuais. Carol está solteira há 6 anos e já não troca a aula de hot yoga por um date mais ou menos. André está solto monogâmico mas já se esbaldou muito na vida de contatinhos. Publicitários e roteiristas, trabalham com comportamento e conteúdo há anos e decidiram se aprofundar no tema que é assunto da manicure à terapia: como se relacionar hoje em dia. Comunicadores, puxam assunto até com o poste e são formados como psicólogos de boteco. Há um ano eles conversam com todo tipo de solteiros e especialistas no soltos s.a. um canal de youtube, instagram e, agora blog, pra explorar as dores e delícias dessa vida solta. Ninguém entende de solteirice como eles: já foram convidados pra falar na Casa TPM, na GNT e no podcasts Mamilos e Sexoterapia (aqui em Universa).
Sobre o blog
Um espaço para trocar estratégias para sobreviver à solteirice e aos relacionamentos em tempos de likes. Quando vale ter uma DR e quando podemos deixar morrer no silêncio? O que significa esse emoji? Assistir stories significa? Experts em solteirice e ótimos psicólogos de boteco, André e Carol compartilham dilemas reais de solteiros e mapeiam possíveis caminhos para não perder a sanidade mental nessa era de contatinhos.